quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Qual a utilidade da morte para a humanidade?

Introdução

Todo ser vivo nasce, cresce e morre.

Ficamos felizes quando alguém do nosso organismo social nasce e ficamos tristes quando alguém do nosso organismo social morre (para saber mais e entender o poderoso conceito de organismo social procure aí nas postagens). É a felicidade natural frente ao crescimento e a tristeza natural frente à diminuição.

Muitos de nós temos dificuldade em entender a morte. Ainda mais quando é de um ente querido ou de um dos organismos sociais dos quais participamos.

Afinal: 
1. O que é a morte? 
2. Por que morremos? 
3. Qual a utilidade da morte? 

1. O que é a morte?
1. Existem vários tipos de morte. Do modo mais genérico possível a morte é a perda da vida, ou seja, a incapacidade permanente de um ser biológico em se manter no "steady state" biológico, ou seja, ele começa a se desintegrar biologicamente. Ela pode ser causada pelo envelhecimento (a morte programada no DNA, influenciado por fatores ambientais), ou de outros tipos. Quando de outros tipos são ainda mais traumáticas, pois temos a sensação de interrupção de uma história que ainda tinha continuidade.

2. Por que morremos?
2. A resposta para o "por que morremos" é função da causa da morte. Para cada tipo de morte há um motivo. Na morte programada, por envelhecimento, morremos porque as nossas células vão se desgastando de tal maneira que o número de falhas de execução acaba comprometendo funções fisiológicas essenciais à vida (função cardíaca, renal, hepática, circulatória etc.). O desgaste das células ocorre devido às suas sucessivas divisões para renovação (que desgasta os telômeros - partes do DNA que regulam a qualidade das próximas divisões celulares) e devido ao desgaste provocado por substâncias toxicas à célula como radicais livres, oxigênio etc.

Até aqui nenhuma novidade. O próximo item, no entanto, apresenta uma perspectiva inovadora: a análise da utilidade da morte na perspectiva do maior organismo social de todos - a humanidade.

Qual a utilidade da morte para a humanidade?


Quando eu digo humanidade, estou falando do conjunto de humanos como um ser único - o que eu chamo de o maior organismo social. Então por mais que eu não queira morrer, se eu morrer praticamente nada muda para a humanidade, é como a morte de uma célula para nós. Mas vamos ao que interessa.

Muitas pessoas desejariam ser imortais, e tendem a pensar que se nós humanos fôssemos imortais a humanidade evoluiria muito mais rápido, pois acumularíamos muito mais conhecimento. Minha questão é: será mesmo? Vamos avaliar alguma coisas.

O valor do tempo

O valor de algo A é o valor de algo B que eu estou disposto a abrir mão para ter o algo A. Isso é praticamente uma lei natural, não há como discordar.

Concordando com a afirmação acima eu pergunto: qual é o valor do tempo?
Dado que o tempo é um dos atributos que eu uso para viver (executar as funções e atividades que eu quero) ele será o quanto mais valioso para mim o quanto mais escasso for. Por isso que pessoas que sabem que não tem muito mais tempo de vida tendem a utilizar o seu tempo com muito mais intensidade - "se eu vou morrer daqui a um mês não quero ficar jogando xadrez aqui. Vou ver minha família e passear em lugares que eu sempre quis". Isso faz sentido, certo?
Como você é inteligente já deve ter percebido que se fôssemos imortais o valor do tempo seria muito diferente, muito menor. Consequentemente o que faríamos com o nosso tempo também seria muito diferente.

A vaidade dos seres biológicos e a pressa

Nós somos programados pela natureza para querermos ser melhores do que os outros. É assim com as bactérias, plantas, fungos, animais e humanos, consequentemente.

Essa programação nos empurra a empreendimentos de vida únicos, em que procuramos realizar alguma coisa ou deixar algum tipo de marca: seja um filho bem criado, uma empresa organizada, uma obra de arte etc. Então nós temos objetivos na vida, programados pela natureza.

Esses objetivos, para serem realizados dependem de várias atividades que demandam tempo. Como nosso tempo é limitado (e pior que isso, imprevisível) nós temos pressa para desenvolver nossos empreendimentos. A pressa decorre, portanto, da limitação do tempo que a natureza nos impôs.

Agora vamos nos perguntar? O que teríamos hoje de desenvolvimento científico se não fosse a pressa? O que seríamos a humanidade sem a pressa? Será mesmo que estaríamos mais evoluídos ou será que nós pensaríamos diferentes e trataríamos os nossos projetos numa perspectiva de tempo muito mais alongada?

Conclusão: a utilidade da morte

Minha hipótese é que estaríamos muito mais atrasados sem a pressa, ou seja: se fôssemos seres imortais a humanidade estaria muito mais "atrasada". E pensando na humanidade como um organismo social que agrega os humanos vivos, se ela está interessada no tipo de evolução que nós buscamos (e eu acho que está, porque sem saber estamos fazendo o que ela quer), faz todo o sentido que sejamos mortais.

Qual seria o objetivo da humanidade? Ora, o mesmo objetivo que o nosso: sobreviver. Mas o tempo para ela é diferente. E ela sabe que para sobreviver no longo prazo precisa conseguir sair da terra, se quiser. Fecundar outros planetas. Navegar pelo universo.


Outras observações (não leia): 

1. Vivo e morto são status exclusivos e opostos para nós, seres biológicos. Outros tipos de seres, como os computacionais (nossos futuros dominadores) não possuem estas propriedades. Como são seres abstratos eles simplesmente existem ou não existem.

2. Seres abstratos são seres computacionais com inteligência própria.

3. Nem mesmo os seres abstratos conseguem navegar no nosso tempo para trás. A prova disso é que estamos vivendo agora, ainda sem o domínio dos seres abstratos. Se eles conseguissem voltar no tempo já estaríamos vivendo no seu mundo. O único tempo navegável é o tempo abstrato, que é o tempo criado em um ambiente computacional (essa é uma das grandes vantagens que pode seduzir a humanidade a querer viver no mundo abstrato-computacional).

4. Eu não faço ideia, ainda, se os seres abstratos e todo o universo abstrato que nós humanos vamos criar fazem parte da humanidade ou não. Ou se um ser que nascerá dela, levando-a a morte e continuando a partir daí a sua própria missão por sobrevivência.

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