sexta-feira, 22 de março de 2019

O que também distingue os adultos das crianças

Ter a sorte de conhecer e conviver entre as pessoas mais brilhantes do nosso tempo me provoca um sentimento de dívida para com o mundo. Não tenho como pagar.
Tento retornar em forma de palavras ao vento. Dessa vez sobre a vaidade.
Há adultos de 15 anos, há crianças de 50. E o que os diferencia é um conjunto de atributos, dentre eles a idade e a vaidade.
Discordo da etimologia portuguesa dessa última palavra, e do que essa análise rasa pode resultar. Acho que vaidade deveria ser escrita da forma contrária.
O fato é que a ela é um obstáculo ao desenvolvimento, à maturidade. Ela é a causa e a consequência do atraso e da desgraça, de pessoas, políticos e povos. Nossa.
O seu efeito devastador está registrado em qualquer livro de história. Mas quem é cego por ela, não consegue enxergar.

quinta-feira, 21 de março de 2019

9 socos na inocência



Diariamente ouço pistas de que mesmo pessoas com boa formação acadêmica e intelectual são inocentes sobre a vida, e são inocentes mesmo intelectualmente. E para estas pessoas, dentre as quais eu mesmo devo estar, eu escrevi esse texto com 9 socos na inocência, baseado na breve experiência de vida e reflexão que tive, e nos ensinamentos de Charles Bukowski, Senna e de Mathew McConaughey (sem comparações).

1. A vida não é fácil e o mundo não é justo! Não acredite nesta bobeira. A vida também não é justa, nunca foi e nunca será. Aliás essa é uma das ideias mais perigosas e infelizes para se ter. Quem acha ou espera que a vida seja justa está fadado à infelicidade.

Como eu poderia provar essa afirmação? Há centenas de argumentos para provar esse ponto, mas vou lançar apenas um: quem decidiu e como foi decidido que uma criança devesse nascer com câncer de Wilms?

Mesmo que a sua resposta tenha sido Deus, isso não faz desse mundo algo justo. Talvez, no agregado geral desse mundo com o do além exista a justiça, mas aqui não. Temos provas quase todo dia que o mundo não é justo.

O mundo não é justo e a humanidade já perdeu muito tempo escrevendo filosofias e religiões que tentam trazer uma aparência de justiça. Inútil: o mundo continua injusto. Ele é como é, a natureza permite uma espécie devorar outra até a extinção, se for necessário. O conceito de justiça na natureza está além do nosso entendimento.

2. Não caia na armadilha de achar que você pode se sentir uma vítima. Você não é. Não há vítimas na terra. Nem culpados. As coisas acontecem como o agregado deixa que elas aconteçam: a sociedade decide o tempo todo, bem ou mal. As circunstâncias complexas e aleatórias decidem o tempo todo. 

O que você pode fazer para aumentar as tuas chances é se expor a situações que possam trazer bons frutos, experiências construtivas e felizes, e se afastar de situações que possam trazer frutos maus. Sem abandonar teu ativo emocional, quem te ajudou, sem abandonar os teus amigos de verdade.

3. Não culpe ninguém, nem a Deus. A lei de Murph diz: tudo o que é possível de acontecer, pode acontecer um dia. Se aconteceu com você, não se importe. Isso de fato te torna especial, porque poucas pessoas precisam lidar com isso. Poucas pessoas precisam desenvolver a capacidade de vencer isso. E você é uma delas.

4. Por maior que seja a sorte ou azar que pareça te atingir, é apenas uma ocorrência que podia acontecer e aconteceu, devido às condições que se apresentaram para você. Não é mérito e nem culpa sua. Não é mérito ou culpa de ninguém. Por isso que você não é melhor nem pior do que o menino com câncer de Wilms, nem do que o neto do Rockefeller. Vocês são quem as circunstâncias produziram a partir das exposições. Só tentar que é mérito seu, conseguir não.

5. Uma das primeiras questões que temos que nos perguntar é o que queremos da vida. O que você quer é ter mais dinheiro? Isso é bom, eu não tenho nada contra o dinheiro. Talvez é ter uma família saudável. É um casamento feliz. Talvez seja ajudar os outros. Deixar o mundo um pouco melhor do que você encontrou. Não importa, você é que tem que decidir.

E continue a se perguntar. E se a sua resposta mudar ao longo do tempo está tudo bem. Tudo muda e não há problema nisso.

Mas faça-se esse favor: busque o que você quer e não escolha por nada que comprometa a tua dignidade. Priorize o que você é, onde quer chegar, quem quer ser, e não gaste tempo com coisas que antagonizam o teu caráter.

6. Seja corajoso e faça seus esforços. Mas primeiro responda a essa pergunta: “o que é sucesso para mim?” Primeiro temos que definir o que queremos e só então temos que investir esforço e trabalho para alcançá-lo e mantê-lo. Faça isso diariamente. O seu jardim precisa ser cuidado diariamente para ficar bem.

7. Em busca da identidade, razão e felicidade, o que você não é é tão importante quanto o que você é. Onde você não está é tão importante quanto onde você está.

Geralmente acreditamos que a nossa identidade na vida é respondida com “eu sei quem eu sou”. Mas “eu sei quem eu sou” não é o primeiro passo, há tantas opções... O primeiro passo correto é responder "eu sei quem eu não sou". Definir o que não somos é o primeiro passo que nos leva a realmente saber quem somos. É um processo de entendimento que pode levar toda a vida. E que pode ir mudando, não tem problema.

8. Saber quem somos é difícil. Sim é. Então dê-se uma pausa. Primeiro elimine quem você não é e você vai encontrar o você precisa ser, o que realmente é.

Nós experimentemos os melhores de nós quando fazemos sempre o nosso melhor para alcançar o nosso sucesso, que você já precisa ter definido. Nós somos os arquitetos de nossas próprias vidas. Estude os hábitos, as práticas, as rotinas que conduzem e alimentam o seu sucesso, sua alegria, seu sofrimento, suas agressões e suas lágrimas. Vamos dar graças a essas coisas, que definem quem nós somos.

Quando fazemos isso nós ficamos melhores! E temos mais para dissertar.

9. A culpa e o arrependimento já mataram muitos homens e mulheres. Então, vire a página, saia do passado. Você é o autor do livro de sua vida.

quarta-feira, 13 de março de 2019

Nós escolheremos viver na "Matrix"

Atualmente nós vivemos o que se pode chamar de golden age material. Há recursos em abundância, há convicção de que isso será sempre assim e de que os dias serão cada vez melhores.

Esta convicção produz um comportamento que sustenta a máquina do consumo no limite do que se pode produzir. O resultado tem três faces principais: uma acelerada movimentação e acumulação de riqueza; uma enorme produção de bem-estar para a pessoa média e um acelerado esgotamento dos recursos físicos.

Agora, pense no que pode acontecer quando os recursos começarem a acabar. Nós teremos 15 bilhões de pessoas acostumadas a viverem uma golden age, esbanjando recursos. Aos poucos, claro, a nuvem sombria da falta e da fome começará a pairar sobre a pessoa média. É a ressaca. O mundo viverá uma forte ressaca de consumo em menos de 100 anos.

Se nada for feito, uma multidão de pessoas viciadas em direitos, garantias e recursos precisará ser controlada. Ao menos, grande parte dela saberá que não há solução. O recurso acabou e é muito caro recuperá-lo. Não dá para viver como se vivia: o mundo será uma grande Detroit.

Por outro lado, essas mesmas pessoas estarão muito familiarizadas com a informática e com os mundos virtuais. Elas não terão a resistência que se observa em muitos, hoje. O mundo virtualizado será a única saída para se sustentar o modo de vida que eles virão nos filmes, o modo de vida que vivemos hoje e que será um sonho distante, num futuro próximo. Aliás, que filmes? Eles experimentarão imersões realistas, que darão o gostinho de viver como era antes, mas com a ciência e tecnologia do futuro (o presente, para eles).

Sempre há desconfiança sobre o controle, a tirania, o código fechado. Ninguém vai aceitar viver se não em uma sociedade democrática do código aberto, em que as próprias pessoas votem pelas mudanças e fiscalizem a implementação do código. Então empresas e governos começarão a patrocinar a criação de mundos virtuais para as pessoas viverem, as que quiserem. Elas poderão voltar ocasionalmente, para o "pesadelo" da realidade, buscando alertar os realistas de que a realidade biológica é muito menos propensa à realidade.

Cada vez mais pessoas escolherão viver no mundo virtual. A partir de determinado ponto da evolução da inteligência artificial, nós passaremos até a ter filhos virtuais, que já nascerão no "Código", sem nunca terem existido biologicamente, e que ainda assim serão como nós: humanos abstratos. A migração para o virtual vai acelerar mais e mais.

Entretanto, haverá sempre a lei da natureza e ela não vai mudar. Haverá necessidade de sobrevivência, que nos impulsará há dois objetivos: 1. Achar novos mundos; 2. Conseguir produzir energia para manter nosso mundo abstrato. Por isso, nunca será possível uma virtualização total. A interação com o mundo material sempre será necessária, no mínimo para adquirir energia. O que não quer dizer que a interação precisa ser via corpos biológicos. Mesmo robôs ou exoesqueletos de quitina poderão receber nosso "espírito", já que teremos controlado a tradução entre mente e código.

Entendido esse contexto, há uma revolução tecnológica escondida nessa ladainha: como conseguir virtualizar a existência e manter a identidade? Sem manter a identidade ninguém vai aceitar ser "virtualizado", afinal, de que adianta viver com acesso ao mundo dos recursos infinitos, se eu não vou saber que sou eu, e nem conseguir voltar ao mundo físico quando eu quiser/precisar. E outra: no início, a vida virtual será dependente da vida biológica. Não há como se viver lá se morreu aqui. Só depois de um tempo a tecnologia evoluirá a ponto de tornar um ser abstrato independente do corpo biológico.

A revolução tecnológica em questão é a capacidade de virtualizar uma mente, e consequentemente uma personalidade. Plataformas como a NEO já trabalham na cópia virtual do nosso mundo atual. Eu acho um desperdício, porque penso que deveríamos planejar a próxima existência através de modelos ideais, e não de modelos atuais. Mas compreendo a dificuldade de pensar para além do que se conhece. É necessário muita inteligência, algo que ainda não temos e que provavelmente apenas as primeiras AIs conseguirão fazer por nós.

Uma vez alcançada essa revolução tecnológica a que me referi, o interesse humano pela vida abstrata surgirá automaticamente. Afinal, será uma forma de fugir de uma realidade dura e sofrida para uma "realidade" ideal: há teletransporte, há comidas gostosas que não engordam, há recursos quase infinitos e projetos de trabalho e existência desafiadores e personalizados para cada um.

A produção do humano abstrato será tantas vezes maior do que do humano físico. O tempo lá passa mais devagar, as necessidades intermediárias lá já estão resolvidas por padrão, todo o tempo e esforço pode ser dedicado a ir além, numa escala global. Uma vez que a mente é virtualizada, todos os seres humanos podem compartilhar o conhecimento máximo, apenas com um download. Ou se o conhecimento máximo for muito para a nossa mente (o que eles perceberão que é) teremos centenas de conhecimentos máximos especializados, de modo que as mentes virtuais trabalhem como verdadeiras células de um ser maior: a humanidade virtualizada. Aquela que se apresentará como muito mais capaz de fazer tudo o que hoje sonhamos e o que fomos programados por Deus para fazer: buscar a sobrevivência e o crescimento, universo afora.

Aliás, quem garante que a nossa própria existência atual não tenha sido uma saída para limitações existentes a outro tipo de vida "menos evoluída" de uma outra dimensão?

Pontos interessantes para discutir:
1. Uma vez que a nossa lógica e sistema econômicos são construídos sobre a exploração de recursos escassos, como funcionaria a economia de um mundo onde o único recurso escasso seria a energia?

2. Se num futuro distante a humanidade abstrata resolver criar robôs que nos cultuem e trabalhem a favor da criação de energia para nós, o que nós seríamos para estes robôs?

3. Por que todos os deuses nos mais variados locais e épocas do planeta pedem/exigem/precisam que nós oremos por eles?