domingo, 10 de fevereiro de 2019

De onde vem o racismo e o perigo de tratar apenas sintomas ao invés da origem do problema

Em meio a tanto trabalho em pleno sábado sobrou um tempo para combater a doença social que assola o Brasil e o mundo: o sensacionalismo.
A briga de hoje foi sobre uma festa temática na minha querida Bahia, que rememorou feridas ainda latentes da escravidão, provocou muita polêmica e trouxe o tema do racismo à tona.

Por que o sensacionalismo é ruim?
1. Porque ele nos afasta da verdade - julga apressadamente pessoas e as condena sem antes analisar o que de fato ocorreu.
2. Porque ele nos afasta da realidade - nos expõe às garras dos manipuladores de plantão.

Voltando ao que importa: o racismo. Tentarei ser breve e trazer o sumo dos pensamentos que norteiam a minha opinião:

1. Já reparou que a esmagadora maioria dos racistas defendem que a sua própria etnia é a superior e não a de outros?

Pois, é tão simples e a gente fica complicando.

Racista é a pessoa que acha que uma etnia é biologicamente superior a outras. É diferente de discriminação: discriminação é quando você trata uma pessoa de forma diferente, geralmente inferiorizada, devido à sua origem social, geográfica, étnica, jeito de vestir etc. A discriminação está muito relacionada com o preconceito, que é a tendência de julgar uma pessoa pelas aparências, antes mesmo de lhe conhecer. Logo: racismo é diferente de discriminação que é diferente de preconceito. Uma pessoa pode ser racista e não discriminar ninguém, ficar na dela. Já outra pode não ser racista e discriminar pessoas pobres, por exemplo.

Vamos voltar à origem do problema:

A natureza funciona assim: uma planta quer ir mais alto do que a outra, pra pegar mais sol. As baixinhas querem ficar mais eficientes, para conseguirem se espalhar mesmo com pouco sol. As leoas se juntam em grupos para sobrepujar outros grupos. A natureza é bela e cruel e os seres pensantes tentam trazer alguma ordem e alguma solidariedade nisso tudo - também há solidariedade na natureza, em menor quantidade do que competição, mas há. Concorda até aqui?

Apesar de o ser humano ser o animal mais pensante e capaz de organizar sociedades extremamente complexas, ele não está imune à sua natureza animal. Somos competitivos e queremos ser melhores do que os outros, melhores do que nós mesmos no dia de ontem. Essa é a regra geral. Certo?

Pois bem. Algumas pessoas não têm muito do que se orgulhar na vida, acabam se tornando pessoas frustradas, por azar ou comodismo. Veja bem: eu não acho que ninguém é melhor do que ninguém. Mas se eu passar 10 anos parado sem aprender nada, vou ficar para trás, e não vou conseguir tirar o atraso em seis meses. E a natureza é cruel, ela não espera. O tempo atropela as pessoas e as transforma alguns em seres frustrados. Processo esse que tem sido bastante acelerado pelas redes sociais, mídia e modo de vida atual.

Voltando ao ponto, as pessoas que têm pouco do que se orgulhar das suas próprias conquistas irão buscar atributos que lhe projetem para cima, para que se sintam melhores do que as outras. Não estou falando que é certo nem errado. Só estou falando que é assim. Algumas dessas pessoas procuram em características físicas os atributos de qualidade que lhe faltam em outras áreas do "ser".
Isso explica todo o racismo? Claro que não. Essa é a regra geral. Outros motivos são: pertencimento a um grupo (de racistas), ser engraçado na mesa (racismo soft) etc. Repare que há componentes individuais e sociais, mas a origem em todos os casos é a competição, é o querer ser melhor.

Então, tratar o racismo como um desvio de caráter e tentar esconder a origem real do problema é fingir que está se buscando resolver o problema. A festa temática, ocorrida na Bahia, é só um sintoma. Qual é o real problema? É dentro do ser humano. Só quando entendemos a existência, as razões e os motivos dos nossos pensamentos (ou de qualquer coisa) é que podemos agir racionalmente sobre eles. Sem entender de onde vem o racismo, sem espalhar conhecimento sobre isso não vamos nunca conseguir entendê-lo e desmascará-lo ridículo, como ele é. Não adianta tratar os sintomas.

O racismo é uma questão de psicologia e não de sociologia. Não vamos acabar com o racismo combatendo às suas manifestações, as festas temáticas ou as novelas de época. Pelo contrário. Quanto mais cegamente as suas manifestações forem combatidas, mais ele vai se fortalecer. Essa é outra lição da natureza que ignoramos constantemente: combata algo da forma errada e ele se fortalecerá. Uma lei para punir é melhor do que nada. Mas só trata o sintoma.

2. O problema de tratar os sintomas.

Um dia ainda vou escrever sobre isso. Hoje é apenas um twit.

O fenômeno das soluções para os sintomas é famoso na medicina. O número de "doenças" mentais e psicossomáticas triplicou em algumas décadas. Usei as aspas porque as doenças continuam praticamente as mesmas, mas é que agora há remédios para mais e diferentes sintomas. Veja: o ser humano tem 200 mil anos na terra. Você acha mesmo que faz sentido o número de doenças triplicar em poucos anos?

A jogada é a seguinte: tratar a origem do problema resolve o problema. E resolver o problema não é tão lucrativo quanto tratar os sintomas. Sacou? E assim segue o mundo: a industria da "saúde" continua crescendo.

Da industria da doença essa técnica tem se expandido para a política e a sociologia. Nos países menos desenvolvidos, por manipulação ou por simples incapacidade, se discute muito os sintomas e  pouco as origens dos problemas. E uma sociedade com muitos problemas precisa de super-heróis. E não faltam candidatos (sacou? candidatos).

No final das contas, para resumir, as pessoas passam o seu tempo discutindo sintomas ou besteiras piores. Poucos estão preocupados em entender problemas, sugerir soluções. E o mundo segue, coordenado por nossos super-heróis.

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